sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Meus sete inimigos

Um dos mais bonitos – e mais difíceis – preceitos do cristianismo é o de amar os inimigos. “Ouvistes o que foi dito: Amarás teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem (...)” (Mateus, 5:43-44).

Se não me falha a memória, o escritor C. S. Lewis teria advertido que o cristianismo é a religião menos indicada para quem deseja se sentir confortável. E sei que o mesmo autor declarou: “Ser cristão é perdoar o imperdoável”. De fato, a paz oferecida por Cristo não é o Mar da Tranquilidade – deixemo-lo para os lunáticos. A paz cristã é árdua e tumultuosa; uma paz em guerra, por assim dizer.

Com isso, não queremos forjar um cristianismo que seja o contrário do que verdadeiramente é, mas lembrar que a doutrina não se enquadra no clichê vulgar de santinhos indefesos e engolidores de hóstias. A exemplo de Camões, o cristão está em paz com a própria guerra.

Em 1930, o revolucionário russo Nikolai Bukharin escreveu: “O amor cristão, que se aplica a todos, mesmo aos inimigos, é o pior adversário do comunismo”. Curioso que essas palavras tenham vindo de um teórico acusado pelos bolcheviques de ser mais escolástico do que marxista. Bukharin terminaria seus dias fuzilado por ordem de Stálin, suplicando por um perdão que o camarada não lhe concederia.

Da mesma forma que tenho uns sete leitores, devo ter feito uns sete inimigos nesta vida. Observe-se que Jesus não proíbe os homens de ter inimizades; ele apenas diz que os inimigos devem ser amados. Portanto, a maneira mais fácil de não ser obrigado a amar os inimigos é não ter inimigos. Estou trabalhando nisso.

Quem são meus inimigos? Há o rapaz que admira minha vida e quer ela para ele (por incrível que pareça); há a moça que me xingou de mau caráter por um caso ocorrido há uns 300 anos; há o que me odeia por defender minhas idéias arduamente (acho que sou o único que sobrou); há um motociclista e sua esposa que me atribuem conspirações dignas de um Bórgia; há o que me considera perseguidor das minorias (bobagem, até porque sou a menor minoria do mundo); há aquela que me julga abduzido por ETs conservadores. A conta já deu sete?

Estou rezando por vocês, meus ex-inimigos, sempre que posso, sempre que lembro. E posso sempre, e lembro sempre. Na verdade, o meu único verdadeiro adversário é uma sombra na alma, é um sopro de dúvida, é um círio de medo. Meu único inimigo é o Pecado Original. Sou eu mesmo.

Um comentário:

Isse disse...

A matéria é legal, mas só por curiosidade porque usastes um título meus sete inimigos e colocastes 8 fotos?
Grande abraço!